Mariana Barbosa coordenou e editou o livro “Pós-verdade e fake news —
Reflexões sobre a guerra de narrativas” com oito
textos e duas entrevistas sobre o tema, publicado em fins de 2019. De lá para cá,
esse assunto ganhou tanta expressão na sociedade que Marcia Glogowski, mentora do
Coletivo Pro Comunica, resolveu chamá-la para uma live. Coincidência: o STF
discutia no mesmo dia prosseguimento de inquérito das fake news.
Um boato é fake news?
Na verdade, não. Fake news é um conteúdo que emula o formato
jornalístico para ganhar veracidade. Ou seja, é um conteúdo com cara de notícia,
mas que não é verdadeiro. Tem intencionalmente uma estrutura para parecer
notícia, com apelo emocional. E às vezes confunde-se com piada. Feita para enganar.
“Tem uma expressão comum – ‘isso a imprensa não mostra’ –
que é um forte indício de fake news”, alerta Mariana. “Se o fato é real e
importante, a imprensa fará a cobertura.”
Quais os outros alertas?
- Ficou em dúvida, pesquise sobre a
notícia em outras fontes
- Cheque a fonte das notícias em
portais como G1 e UOL, que são abertos, se não tiver assinaturas, ou sites que
verificam os fatos, como Lupa, Aos Fatos.
- Lembre que também é fake publicar
hoje uma notícia antiga como se fosse atual.
E aí entra o comportamento do cidadão. “A gente compartilha
fake news porque queremos comungar a visão que nos representa. Muitas vezes,
para fazer graça, reafirmar nosso papel em determinado grupo e reforçar um
posicionamento. Influencers usam seu poder para propaganda e para denunciar,
para o bem para o mal.”
“Vamos botar quem compartilha fake news na caixinha de
cafona. Não pode! A gente tem que se comportar, em praça pública e na rede. E
deixar de lado a questão emocional, a vontade de reforçar nossas convicções,
mesmo que a gente saiba que não é verdade, para o bem da informação. Confiar nas notícias é importante, mas vivemos no mundo da pós-verdade, em
que cada um escolhe a verdade que lhe cabe. É muito difícil viver em democracia,
se desconhecemos qual fato é verdade”, disse Mariana.
Por isso, destacou, é tão importante procurar informações de fontes
seguras, como na grande imprensa. “Uma assinatura digital não custa caro.”
Marcas, cuidem da sua mídia
programática!
Mariana revelou que o perfil @slpng_giants_pt do Sleeping
Giants Brasil no Twitter divulgou que, em 31 dias de atividades no Brasil, já
tem 370 mil seguidores e alcançou 398 empresas, cujos anúncios foram colocados
em conteúdos de fake news. Muitas vezes, sem o conhecimento da empresa. Esse
resultado foi possível graças ao empenho das marcas e da audiência:
- 83,9% das empresas cobradas
bloquearam os sites
- 52,2% das respostas das empresas
foram obtidas após cobranças direta dos seguidores
Ocorre também que as próprias empresas podem ser vítimas de
fake news ou notícias descontextualizadas. Mariana lembra que, na ocasião do
vazamento de óleo no litoral nordestino no ano passado, apareceu uma notícia de
que a Shell tinha tido um vazamento num navio. Mas o fato era de dezembro de
2018, ou seja, anterior ao episódio no Brasil. O que a tornou crível foi a
fonte original, a conceituada agência Reuters. A sua republicação, fora do
contexto real, a transformou em uma fake news, o que prejudicou a Shell como
marca.
“As marcas precisam incluir essa questão em sua conduta de
comunicação. Lembro-me de um caso em que a Procter&Gamble suspendeu um
anúncio no Youtube por discordar da programação negativa associada à marca.”
A alfabetização mediática
São várias as formas para evitar a fake news, a começar pela
educação, pelo comportamento de cada um. “É preciso ensinar as pessoas sobre o
que é uma notícia.
Entender o formato jornalístico ajuda a reconhecer uma
notícia verdadeira, e isso precisa ser ensinado. Tem que estar no currículo
escolar. É um dever de toda a sociedade.”
Bio de Mariana Barbosa
Nascida em Londres, fez pós-graduação em World
Politics na London School of Economics (LSE). Começou a carreira em 1992, na
Agência Estado. Trabalhou como repórter no Jornal de Jundiaí, no jornal O
Estado de S.Paulo e na revista Exame. Foi correspondente em Londres das
revistas IstoÉ Dinheiro, República, Bravo, Superinteressante e Gula, entre
outras. De volta ao Brasil, foi repórter de Economia e Política na Folha de São
Paulo, na revista IstoÉ Dinheiro e no jornal O Estado de S.Paulo. Hoje é
colunista no jornal O Globo e estreará uma coluna diária sobre negócios,
cobrindo política e economia. Sucesso!
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