Suzana
Mara de Carvalho Vernalha encantou as pessoas que assistiram a mais uma Live
Pro Comunica, iniciativa que o Coletivo tem feito desde abril com
empreendedores e profissionais da área de comunicação. Casada há mais de 40
anos, com dois filhos e três netos (“a cereja do bolo”), partiu para fazer o
que estava lá no fundo do seu coração.
“Era
uma vez” é o empreendimento que Suzana criou há cinco anos. Especializada em histórias
de vida, livros de memória e escrita biográfica, ela valoriza as narrativas de
quem deseja compartilhar experiências e eternizar a trajetória de vida. “Um sobrinho
me deu a ideia do nome e uma designer fez o logo, com letras em fontes e cores diferentes.
Assinamos com o complemento, ‘porque toda boa história começa assim’.
O
propósito de Suzana em trabalhar com histórias de vida teve origem com a
comunicação empresarial. “Antes, trabalhei com histórias de empresas e gostei
de entrevistar as pessoas, que falavam muito de si próprias, contavam de seu
trabalho e da vida pessoal. Ao compor suas histórias, dou um toque literário,
com uma linguagem mais suave, mais poética, mais emocional, e não só racional.”
Ao
fazer livros de memória, perfis de pessoas, inclusive profissionais e
acadêmicos, ela lança mão de tudo o que já leu e aprendeu na vida. “Adoro ler. Sou
apaixonada por livros e as pessoas ficam felizes de pegar um livro com o nome
delas.”
“Estou
contando a vida de um senhor de quase 80 anos. É uma história interessante: seus
dois filhos me procuraram para que ele começasse a rememorar os passos da sua vida,
até para ajudar sua memória. Uma trajetória bonita, vencendo desafios”, diz
Suzana, que completa: “Ao ficar mais velhos, fazemos um resumo da vida e
percebemos que alguns comportamentos se repetem. Desde criança, eu fazia
diário. Guardo lembranças de todo tipo. Me tornei contadora de história
voluntária em hospitais, o que estimula a aprender novas histórias e a
contá-las. Fiz curso de escrita criativa e estou fazendo esforço para dar o
melhor de mim. As pessoas estão confiando suas histórias para mim.”
“Para
divulgar meus serviços, tenho pagina no Instagram e no Facebook, mas não dá
tempo de alimentar. É importante, mas o trabalho que faço é muito
personalizado, por isso é mais no boca a boca, por indicação. Hoje, minha vida está
estruturada, porque não dá para fazer dois livros ou duas biografias ao mesmo
tempo. Quando faço, mergulho na vida da pessoa, preciso criar confiança e
intimidade.”
Qual o valor das histórias?
“A
gente conta história o dia inteiro. Os nossos ancestrais a usavam para
transmitir valores. O ancião contava histórias dos desafios que o povo tinha
enfrentado. Elas servem para transmitir a cultura.”
“Na
história de uma empresa ou de uma pessoa, a gente coloca todas as experiências,
inclusive conta como caiu e deu a volta por cima. Isso gera o aprendizado.
Quando um filho ou neto lê o que o pai ou a mãe passaram, entende melhor. Uma
senhora de 70 anos me contou coisas que nem as filhas sabiam, como no roteiro
do filme As Pontes de Madison”.
O
trabalho que Suzana executa é completo. Para compor as histórias ela faz a
curadoria dos materiais. “Ajudo a escolher fotos, documentos, papéis, tudo o
que puder ilustrar o livro. No conteúdo também. Mas, respeito se a pessoa não
quiser falar de alguma coisa.”
A
metodologia dá lugar à sensibilidade de Suzana. “A pessoa vai contando a sua
história, mas não tem o fio do bordado. Alguém forma uma colcha e aí ela se vê.
A gente não tem noção de que superou tantas coisas e quando reúne tudo, a
pessoa se sente empoderada. Acaba dando mais valor. A vida da gente é muito
linda.”
Há
também os processos de design, diagramação e produção gráfica, para os quais
Suzana tem parceiros. Alguns clientes solicitam várias cópias de seu livro. “Um
casal de noivos já me pediu o livro para distribuir como brinde aos convidados.
O mesmo foi em uma festa de 15 anos. Então, foram umas cem cópias.”
Como
Suzana se prepara?
Formada
e pós-graduada em Comunicação Organizacional pela Universidade de São Paulo,
fez curso de extensão em Marketing na Madia Marketing School e mais um tanto de
cursos como: revisão e preparação de textos, criação de personagens, criação
literária, storytelling, história da arte.
“A
comunicação ajuda. Usamos a teoria, mas a prática é diferente. A metodologia de
Suzana começa por entrevistar pessoas próximas, amigos, colegas, funcionários,
etc. “Gravo tudo. Não escrevo porque não quero perder contato visual. Depois
ouço e anoto os pontos mais importantes e aí faço o texto final.”
Como
contadora de histórias, Suzana é voluntária na Associação Viva e Deixe Viver. “Descobri
também há uns cinco anos. Valdir Cimino, fundador da associação tem um grande propósito,
de, por meio da cultura, educação e valores, amenizar o sofrimento de criança
de 0 a 18 anos em hospitais. Hoje, são mais de mil voluntários em 86 hospitais, sendo 49 só no Estado de São Paulo.”
Para
ser voluntário, Suzana explica, é preciso fazer um curso (hoje, online). Depois,
a pessoa escolhe um hospital de preferência. Ela vai, ou melhor, ia antes da
pandemia, ao ITACI – Instituto de Tratamento do Câncer Infantil, uma vez por
semana. Por causa da quarentena, a equipe passou a usar o Facebook e o Instagram
para contar histórias de forma online.
“A
criança é avisada de que todos os dias, das 10 horas ao meio-dia, há contadores
de histórias no site. É só entrar no www.vivaedeixeviver.org.br. Tem também a Bisbilhoteca,
com várias histórias e uma aba chamada Personas, que artistas contam histórias.
O sucesso foi tanto que terão de manter o projeto online.”
“Quando
se conta uma história para uma criança em um hospital, ela vai para o universo
da imaginação e da criatividade. Nosso cérebro tem dois lados, o racional e o
da criatividade, e a história tem o poder de associar esses dois lados. Entra
pelo lado do raciocínio, vai para a emoção e fica memorizada. Por isso, as
marcas estão adotando histórias. Desta forma, as pessoas memorizam muito mais.”
“Primeiro,
é preciso gostar de contar histórias e ter jeito para contar. Eu conto meus
próprios livros e estudo o livro, porque as crianças perguntam coisas surpreendentes,
que a gente nem pensou. Não leio a história, conto. Mostro as ilustrações do
livro, mas conto, não leio, a menos que seja um poema.”
Todas Vidas Importam
O
trabalho voluntário de Suzana vai além. “Também faço trabalho na organização
Todas Vidas Importam, para pessoas com grandes carências (dependência química,
pessoas que não tem nem R$ 1,50 para o Bom Prato), famílias severamente
prejudicadas. É um grupo aberto e estamos ajudando essas pessoas. A
idealizadora, a Dani, é muito jovem. Iniciou o grupo que foi crescendo, neste momento
muito difícil para tanta gente.”
“Aceitamos
donativos para compra no Bom Prato, estamos financiando reconstrução de
moradias por meio de rifa – estamos construindo uma casa para uma senhora que
tem três filhos, um autista, e agora vai morar com dignidade – e conseguimos
colocar em clínicas três dependentes que queriam sair das ruas.”
Importância das
relações e áreas de conhecimento
“As
narrativas exigem grande background. Fiz vários cursos de criação literária,
história da arte, storytelling. E pesquiso informações complementares. Uma das
biografadas é uma senhora de 70 anos. Ela veio de São Pedro e morava em um sítio.
Pedi uma descrição e pesquisei para colocá-la no sítio, que até virou
personagem.”
No
caso do senhor de quase 80 anos, Suzana pesquisou a cidade do sertão do Rio
Grande do Norte, de onde ele veio. “Para pesquisa complementar, entrei no site
da prefeitura e descobri que uma árvore deu nome à cidade. Posso abrir mais o
leque e até ir ao local, dependendo do que a pessoa quer. Não tenho trabalho de
prateleira.”
O que
mais representa a humanidade são as pessoas que você vai juntando na vida. Isso
vale para a história de todos nós!
Para
encerrar, dicas de ouro para empreendedores e seus negócios:
- 1 Ampliar
as relações, o networking. É fundamental conhecer e ter relação legal com as
pessoas
- 2 Abrir
o leque, fazendo cursos e se conectando com pessoas de outras áreas de
atividade
- 3 Ampliar
o universo por meio de trabalho voluntário. A gente ganha muito mais do que a
gente dá
Saiba mais sobre o trabalho de Suzana:
Era Uma Vez
Associação Viva e Deixa Viver
Grupo Todas Vidas Importam